1 de nov. de 2009

Cabala



O estudo da Cabala interessa aos maçons – somos arquitetos especulativos e, como tais, podemos encontrar no estudo cabalístico elementos que completam nossa formação iniciática. Mas ao iniciarmos um estudo sobre esse fascinante tema, é preciso, logo de inicio, aprender a separar o joio do trigo, se quisermos, verdadeiramente, mergulhar no coração da Cabala.

Ler e pesquisar são fatores importantes, é a primeira etapa; mas será sobre tudo pela meditação que emergirão “insigths” profundos ou lampejos intuitivos dos níveis superiores da consciência.

Várias obras compõem a Cabala, mas reconhece-se o Sepher Yezirah (O Livro da Criação) e o Zoahr (O Livro do Esplendor) como os mais importantes. Esses dois tratados de elevada metafísica apontam a senda que poderá nos harmonizar com as camadas profundas da Psique. Essa senda permitirá ao buscador sincero uma apreciação do Ser Divino por meio das emanações numéricas da Luz. Acredita-se que isto constitui a essência do pensamento cabalístico.

A temática fundamental da Cabala é Deus, a natureza e o homem ou seja: Ontologia (a natureza do Ser), Cosmologia (Origem do Universo), Teologia (a natureza de Deus), Antropologia (estudo da história natural do homem) e princípios exotéricos superiores.

O Sepher Yezirah revela como “Yah o Senhor dos exércitos, o Deus vivo, Rei do Universo, Onipotente, de Suprema Bondade e Misericórdia, supremo e Exaltado, que é Eterno, Sublime e Santíssimo, ordenou (formou) e criou o Universo em 32 caminhos misteriosos de sabedoria por três sepharim”... esses caminhos são compostos pelas 10 sephiroth e as 22 letras do alfabeto hebreu.

Na maçonaria, as sephiroth estão representadas pelas luzes e oficiais sendo que o venerável, o orador e o secretário correspondem à Sagrada Trindade Superior. As sete demais, chamadas sephiroth de construção, formam o mundo inferior e correspondem às sete letras duplas do referido alfabeto, aos seis dias da criação mais o dia do repouso.

Essas sete sephiroth estão também representadas na maçonaria pelos oficiais situados no Ocidente do Templo. No entender dos iniciados, seriam apenas com essas sete sephiroth ou níveis de consciência que o homem encarnado poderia manter contato por meio de ascensão celestial... enquanto encarnado em um corpo físico.

Vistas de outra perspectiva, as sephiroth formam quatro mundos: Atziluth, o mundo arquétipo (Kether, chockmah e binah); Briah, o mundo criativo (Chesed, geburah, e tipheret); Yezirah, o mundo formativo (Netzach, hod e yesod) e por ultimo, Assiah, mundo da ação (malkuth). Tais mundos estariam relacionados com as quatro letras do Divino Nome (YHVH) e com os quatro aspectos do homem celestial ou os quatro Adãos: O Adão Kadmon, o homem arquétipo; o Adão do primeiro capítulo do Gênesis, o Adão formado do pó da terra e o Adão posterior à Queda.

As sephiroth foram também associadas às Ordens Angélicas da Hierarquia Celestial ou Corpo Celeste de governantes Secretos, apresentadas nos escritos de Dionísio, o Areopagita, do seguinte modo: Kether, serafins; chockmah, querubins; binah,tronos; chesed, dominações; geburah, virtudes;tiphereth, potestades; netzach, principados; hod, arcanjos; yesod, anjos e malkuth, regente.

O Zohar focaliza a Cabala em quatro aspectos: a Cabala Prática (magia talismânica e cerimonial); a Cabala Literal (gematria, natiricon e temurah); a Cabala Tradicional (tradição oral) e a Cabala dogmática (metafísica).

Ao lermos essas ou outras obras da Literatura Sagrada é importante ter em mente que os iniciados empregaram a linguagem simbólica devido à impossibilidade de descrever o indescritível. Daí, a história de Adão, de Enoque, de Lúcifer, da Escada de Jacó, da Jerusalém Celeste, do véu de Isis, dos sete selos do Apocalipse, da Parábola do filho pródigo etc. Dante ao escrever suas visões dos mundos interiores, na Divina Comédia, sentiu sérias dificuldades, por isso recorreu ao simbolismo hermético a fim de transmitir às futuras gerações, sua incrível experiência da Consciência Cósmica ou Iluminação

Pesquisadores sérios como Agrippa, Franck, Rosenroth e outros relacionaram os 32 caminhos da Cabala com os 32 pares de nervos que existiriam no corpo humano.

O avanço da ciência vem favorecendo a uma visão holística das antigas tradições. Assim, expressões como árvore da vida, árvore do conhecimento, sephiroth etc. vem sendo associadas aos chakras, aos centros psíquicos e aos diversos gânglios. Em outras palavras, há dois sistemas nervoso: o sistema nervoso autônomo (árvore da vida) e o sistema nervoso espinal (árvore do conhecimento). O primeiro transmite consciência psíquica e, o segundo, energia motora às diversas partes do corpo. Assim como as sephiroth compõem o Adão Kadmon, os sistemas nervosos autônomos e espinal com seus gânglios parassimpáticos e simpáticos compõem o homem. Do mesmo modo que as sephiroth que estão localizadas nos “dois pilares colossais” da esquerda e da direita, são respectivamente positivo e negativo, o sistema nervoso autônomo é duplo: o lado esquerdo do corpo possui polaridade negativa e o da direita, polaridade positiva. Esses dois sistemas nervosos regulam as atividades conscientes e inconscientes permitindo a ação da mente objetiva e da mente subconsciente. O intercambio entre os vários aspectos do ser permite que a vida e a consciência se manifestem.

Na maçonaria, o sinal de ordem de alguns graus são indicadores da localização dos centros psíquicos que guardam relação com a Cabala. Quando estamos “de pé e a ordem”, estaremos, na verdade, energizando o centro com ele relacionado. O sinal de aprendiz ativa o centro localizado na tireóide; o de companheiro, o centro do coração e o sinal de mestre maçom, o plexo solar.

Outros centros receberam especial atenção dos iniciados: a glândula pineal (o terceiro olho). Vista como um portal entre a mente objetiva do homem e a Mente Divina de Deus. Na maçonaria, a pineal está representada pelo “Olho Que Tudo Vê”, colocado justamente no Oriente (o Delta Sagrado).

A glândula hipófise é outro centro importante e é significativo que ela se divida em anterior e posterior, sendo a primeira mais ativa no homem e a segunda na mulher. O Zohar afirma que “quando o Venerável Espírito (Kether), assumiu uma expressão, tudo criou forma de macho e fêmea”... Talvez haja profunda relação entre os três sepharim mencionados no Sepher Yezirah e as glândulas pineal (Kether), hipófise anterior (chokmah) e hipófise posterior (binah).

Outro elo da ciência que comprovou os dados da Tradição é a Psicologia Analítica de C.G. Jung. Não poderia ser diferente uma vez que Jung se inspirou na Alquimia para desenvolver sua Psicologia Profunda. Os vários arquétipos (persona, sombra, anima, animus, Si-Mesmo etc.) que povoam o Inconsciente Coletivo, correspondem às sephiroth cabalísticas. Ele adverte, inclusive sobre os graves perigos de mergulhar a consciência no Mundo do Inconsciente Coletivo. Suas obras são indicadas para aqueles que desejarem compreender os arcanos da maçonaria e inúmeros outros mistérios do homem.

Esperamos ter deixado claro que os níveis sapienciais da Cabala são conhecidos pelo eu interior. É fácil compreendermos essa afirmação, se nos reportarmos ao Mundo das Idéias de Platão; para o filosofo grego, o conhecimento foi adquirido, anteriormente, no Mundo da Idéias Gerais.

O Sepher Yezirah encerra, misteriosamente, sua revelação citando o versículo 5 do Capitulo I de Jeremias: “Antes que no seio fosse formado, eu já te conhecia”... Alusão a uma realidade tetradimensional que existia antes de se projetar ao nosso espaço tridimensional?

Para refletir:

“E Deus, o Rei fiel, reina em tudo de Sua Santa Morada para toda a eternidade. Ele é um acima de três; três está acima de sete; sete está acima de doze e todos estão unidos”... Sepher Yezirah

“Quando Deus criou a forma superior do homem, usou-a como uma carruagem e nela desceu para se tornar conhecido pelo nome de YHVH, com seus atributos e para ser compreendido por cada um deles em particular”.

Zohar

“Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus”.

Santo Agostinho

“Compreenda essa grande sabedoria, entenda este conhecimento, investigue-o e pondere a seu respeito, torne-o evidente e reconduza o Criador a seu trono”.

Sepher Yezirah

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